“É muito gostoso esse nosso aconchego, esse
nosso chamego, essa nossa alegria de ser feliz!”
O I Encontro Nacional de Juventudes e Espiritualidades
Libertadora foi um espaço de vida, de alimentar a espiritualidade libertadora,
regada no testemunho dos nossos antecessores na caminhada, como Marcelo Barros,
Leonardo Boff, Frei Betto e outros, bem como dos mártires da caminhada, que
deixaram suas marcas, seus traços de uma espiritualidade arraigada na vida de
Jesus de Nazaré e dos pobres da história.
A mística que correu qual seiva no coração do encontro foi
do compromisso, do desejo de vivenciar esta espiritualidade no chão de nossas
comunidades e realidades, de sermos profetas no hoje, aqui e agora, de
continuar esta história escrita no coração e na vida de tantos que nos
precederam. Carregamos um desejo imenso de construção, de comunhão, de revolução,
de viver a fé encarnada, como nosso mestre Jesus e tantos que se fizeram
presentes na caminhada.
As celebrações do encontro foram vivenciais, carregadas de sentido,
que envolveram nosso ser, iluminaram nossa historia, nosso objetivo de
participar de um encontro com o tema “espiritualidade”, no encontro com nossos
povos negros, indígenas, numa realidade de nordeste, na acolhida de nossos
regionais, no conhecer o chão que estávamos pisando, com suas belezas, cultura
e desafios. Muita vida e força se expressaram, fortalecendo-se assim nossa
caminhada.
O bate-papo com Frei Betto e Marcelo
Barros, nos fez perceber que a espiritualidade libertadora é um caminho, que se
constrói à medida que nos dispomos a caminhar, constituída em fases, ora consoladora
e clara, ora escura e confusa.
Percebemos neste bate papo que a espiritualidade se inicia
pela busca de Deus que se entrelaça nas realidades concretas que vivenciamos.
Esse Deus é o Deus da vida, que não se prende às estruturas. Por isso lutar
pela libertação é assumir a causa de Jesus, é lutar por ele. O silêncio é
fundamental para enraizar a vida espiritual. Conforme Marcelo Barros, a
liturgia é o encontro humano, é celebração de vida.
No segundo dia, trabalhamos e refletimos
sobre o seguimento a Jesus, a opção pelos pobres e a luta pela justiça.
Recordamos os mártires, que continuam PRESENTES NA CAMINHADA. Ouvimos
indignados e silenciosos/as, o triste relato de tortura do Frei Tito, que
invadiu nosso coração e nossos olhos de lágrimas, tão jovem e tão firme pela
causa. Abraçou a cruz, como o Mártir Jesus.
No testemunho de militantes católicos e de outras igrejas
presentes na mesa temática, que o Reino de Deus acontece na militância e no
alimentar-se pela espiritualidade da libertação. Segundo Laina, da igreja
batista o Nazareno, descobriu, na sua trajetória que Jesus abraça a
diversidade.
Diante dos testemunhos, percebemos que o cristão/ã é
chamado/a à transformar a realidade, não aceita o mundo como está, não pensa em
salvar a si próprio e percebe que o fracasso e as vicissitudes históricas fazem
parte do processo.
As oficinas temáticas trabalharam a
espiritualidade e sua relação, com o corpo, diversidade sexual e gênero,
prática política partidária, ecologia, literatura de cordel, indígena, negra e
cristianismo, ecumenismo, liturgia popular, leitura orante e movimentos populares. Percebemos a riqueza e a diversidade, trabalhadas e vivenciadas nestas oficinas
que servirão de base para multiplicarmos em nossas experiências pastorais.
No terceiro dia, o tema trabalhado foi Espiritualidade e
Utopias Libertárias, cujo assessor foi Leonardo Boff.
Para Leonardo Boff, a Teologia da
Libertação é a experiência espiritual, que nasce do êxodo, dos profetas, de
Jesus e dos apóstolos. Nasce do grito dos oprimidos. É preciso encontrar no
pobre, o Cristo crucificado, clamando libertação e ressurreição. A espiritualidade,
só surge, quando passamos da cabeça para o coração, ou seja, ela não é pensar,
é sentir Deus. É o encontro com o Cristo vivo. Resgatou ainda, a teologia da
criação, presente nos 11 primeiros capítulos do Gênesis, no qual nos mostra que somos o
Povo de Deus. É um espelho para vermos a Deus. E conforme o paneteísmo, Deus
está presente em nós e nós Nele.
O ser humano é o templo em que ele habita. Deus é a comunhão
dos seres. Somos a expressão da Trindade, porque Ela é movimento.
Na criação o Espírito é o primeiro, assume forma feminina,
emerge em Maria. Desta forma, as mulheres são mais sensíveis ao mundo
espiritual.
Em relação à juventude, ele destacou que é forte do jovem,
pensar um mundo diferente, detectar a presença de Deus e que como jovem, é
preciso nadar contra a sociedade, como o peixe da piracema, que nada contra a
correnteza. É preciso juntar força para outro mundo necessário.
Leonardo finalizou afirmando que: “a espiritualidade faz do
mundo não um vale de lágrimas, mas a montanha das bem-aventuranças”.
Finalizamos o dia, com uma vigília, na qual mais uma vez
recordamos os mártires da caminhada e com eles seguimos em marcha para a
beira-mar da praia de Iracema, no qual partilhamos quais discípulos com Jesus,
a tapioca, o peixe e a água de coco, comungando assim, do mesmo projeto, do mesmo
compromisso das seguidoras e seguidores de Jesus.
Alimentados/as por este encontro de fé e vida, e enviados/as, retornamos às
nossas bases fortalecidas/os na caminhada, no compromisso com a causa de Jesus
Cristo, certos de que a libertação só acontece no concreto do chão da vida,
alicerçada por uma espiritualidade que transforma que nos põe em movimento, que
nos faz verdadeiros/as seguidores/as de Jesus de Nazaré.
[Daniel, Eliziane, Andressa, Marcelo, Ir Antonia e Iza - Representantes do RS]
“É Jesus este Pão de igualdade, viemos pra comungar, com a
luta sofrida de um povo
que quer, ter voz, ter vez, lugar. Comungar é tornar-se um perigo, viemos pra
incomodar,
com a fé e a união nossos passos um dia vão chegar”.
Ir. Antonia Pereira Oliveira Resende, IIC - 05/05/2014