segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Moção de Repudio ao Estatuto da família e Planos de Educação.




   Durante nosso 28° Encontro Arquidiocesano das CEBs a partir das reflexãos da oficina de gênero, feminismo e diversidades surgiu uma proposta de moção de repudio ao Estatuto da Família e as intervenções aos Planos de Educação em seus diversos níveis seja municipais e estaduais em que foram retiradas a palavra Gênero dos mesmos.
   Por entendermos que essas são tentativas de manipulações moralista e conservadora na vida do povo sem nem ao menos se abrir ao diálogo, ao estudo e oração não gerando discernimento profundo sobre as temáticas. Nós que vivenciamos o dia-a-dia das comunidades e sabemos que essas intervenções são prejudiciais ás nossas famílias lançamos essa moção pra expressar nosso desagravo com tudo isso, de forma simples, mas conscientes de nosso dever e dizer que continuamos nas bases a refletir sobre as relações de gênero e diversas formas de relações familiares. Segue a moção:     





Moção de Repudio ao Estatuto da família e Planos de Educação.

Nós mulheres, homens e crianças, representantes das Comunidades Eclesiais de Base da Arquidiocese de Porto Alegre reunidas nos dias 07 e 08 de novembro de 2015, por conta do 28° Encontro Arquidiocesano das CEBs, repudiamos o Estatuto da Família aprovado pelo Congresso Nacional, pois, entendemos que este é prejudicial as nossas famílias, e o nosso dever profético enquanto “igreja em saída” é defender e apoiar todas as diferentes modelos de organização familiar.
Temos a certeza em nossas comunidades e Instituições Religiosas, que não vivemos um único modelo familiar e devemos acolher a todos.

Assim como solicitamos a retomada das discussões dos Planos de Educação por entendermos a importância de avançar no tema da educação para a diversidade de gênero.

Canoas, 08 de novembro de 2015.


Carta e Compromissos do 28° Encontro das CEBs da Arquidiocese de Porto Algre



28° Encontro Arquidiocesano de CEBs
CEBs – Fermento de Transformação da Sociedade
Povo de Deus, dialogando com as realidades a Serviço da Vida
                                                                                       
Carta às Comunidades

Irmãs e irmãos, Povo de Deus, discípulos/as missionários/as a Serviço da Vida!
Coragem e Ousadia!

Neste 7 de novembro de 2015, quando o trem das CEBs, com o seu 28º vagão, estacionou na Comunidade Sagrado Coração de Jesus, da Rede de Comunidades Sagrado Coração de Jesus, no bairro Harmonia de Canoas, para um encontro das Comunidades Eclesiais de Base da Arquidiocese de Porto Alegre, celebramos e reafirmamos o nosso compromisso com a vida, e muita vida para todos e todas.
Marcados pela alegria de sermos participantes de uma Igreja “em saída” e pela esperança ancorada na certeza de que Jesus Crucificado Ressuscitado está no meio de nós, 250 delegados e delegadas, compartilhamos e celebramos a vida que sofre as mais diversas ameaças, mas resiste e sempre de novo insiste em gerar alternativas de justiça, paz e liberdade, em cada um dos nossos Vicariatos (Guaíba, Gravataí, Canoas e Porto Alegre).
A partir do tema “CEBs – Fermento de Transformação da Sociedade” e o lema “Povo de Deus, dialogando com as Realidades a Serviço da Vida”, mergulhamos na desafiadora reflexão sobre a realidade, ajudados por Selvino Heck, procurando discernir os projetos que produzem sofrimento e morte e os projetos que geram vida e liberdade, para compreender os sinais dos tempos e podermos testemunhar o Reino de Deus, no seguimento de Jesus de Nazaré, com mais consciência e ousadia.
Foi lançado também o livro “Nosso Jeito de Ser Igreja – Memória histórica e eclesial dos Encontros de CEBs da Arquidiocese de Porto Alegre (1980 a 2015 – 35 anos de história)”, organizado por Frei Wilson Dallagnol.
Reunidos em oficinas refletimos o tema do nosso encontro na sua relação com a política, essa forma importante de viver o amor; a dimensão inter-religiosa; a sustentabilidade econômica e ambiental; as questões de gênero e as juventudes, em especial das periferias existenciais e sociais, aprofundando a nossa identidade de Comunidades Eclesiais de Base, Povo de Deus “em saída” a serviço da vida. Fazemos menção especial ao Cebinho, onde as crianças construíram a sua bonita contribuição ao nosso encontro.
Cada oficina foi gerando compromissos que foram assumidos em conjunto por todos os Vicariatos:

·      Subsidiar as comunidades com material para formação sobre a Identidade das CEBs para levar as experiências e o jeito de ser das CEBs á vida concreta das comunidades;
·      Ampliar o estudo bíblico de forma mais criativa e lúdica;
·      Trabalhar a partir da bíblia a consciência de uma nova Masculinidade que não oprima o homem como o modelo de macho que a sociedade nos impõe;
·      Propiciar mais espaços de reflexão sobre gênero e diversidade sexual nas comunidades;
·       Em meio ao individualismo secularizado optar pela articulação dos grupos de jovens, preferencialmente o modelo da Pastoral da Juventude que tem como base de fé uma Espiritualidade Libertadora e Comprometida com a vida das juventudes;
·      Envolver-se no movimento Frente Brasil Popular e na coleta de assinaturas do abaixo assinado pela Reforma Política;
·      Fortalecer as CEBs e o movimento Fé e Política nas comunidades em preparação as eleições;
·      Participar dos gestos concretos das atividades da Campanha da Fraternidade Ecumênica 2016 e convidar representantes de outras Igrejas para trabalhar essas temáticas nas comunidades;
·      Dialogar/Articular com outras Igrejas o compromisso de sermos defensores da vida;
·      Ter iniciativas socioambientais em cada comunidade [ex.: compostagem de lixo, reciclagem, horta comunitária e orgânica, oficina de sabão, artesanato, grupos de sustentabilidade];
·      Focar trabalho de conscientização socioambiental nas juventudes;
·      Partilhar aos/as jovens e demais pessoas da comunidade os pequenos projetos e práticas cotidianas que podem transformar nossa realidade sócio-econômico-ambiental.

Esses compromissos foram assumidos em conjunto e celebrados em comunhão com os/as nossos/as mártires e tantos e tantas que doaram as suas vidas para que houvesse vida, celebramos com a Comunidade Sagrado Coração de Jesus, junto com a Pastoral do Dízimo e da Pastoral da Saúde, onde também recebemos a benção da saúde e a benção com água abençoada pelo Papa Francisco no encontro com os movimentos populares na Bolívia.
As famílias da Rede de Comunidades Sagrado Coração de Jesus nos acolheram com muita alegria em suas casas, onde jantamos, partilhamos experiências de vida, rimos e descansamos.
Sempre ajudados por uma equipe de animação muito vibrante, retomamos os trabalhos no dia 8, com a oração da manhã que fez memória do dia anterior, iluminada pelo texto de Isaías 65,17-15, seguida de um testemunho contagiante de Jacques Alfonsin, que recordou também a militância nas CEBs de Belinha, uma referência luminosa em nossa caminhada. Compartilhamos o processo de preparação do 14º Encontro de CEBs do Rio Grande do Sul, que acontecerá de 21 a 24 de abril de 2016, em Farroupilha, diocese de Caxias do Sul.

No meio da manhã nos reunimos por Vicariatos que a partir de suas realidades necessidades firmaram compromissos mais particulares:

Canoas: Criar/articular grupos de famílias; Reeditar o ABC das CEBs e elaborar subsídios na metodologia dos encontros de famílias [círculos bíblicos], sobre a identidade das CEBs.

Guaíba: Criar uma base de fé e política no bem da sociedade;
- Articular a fé dentro da instituição Projari [Associação Beneficente São José];
- Trabalhar com os jovens de todas as comunidades [paróquias] - Pastoral da Juventude.
[Ecologia, Estudo-Oração-Dialogo, Violência, homossexualidade...];
-Criar projetos junto a Diocese que vise cobrar Ética em grupo;
-Fortalecer o espírito das “CEBs” no Vicariato.

Porto Alegre: Focar na Animação Bíblica para resgate de animação das comunidades; criar ações reais de práticas de sustentáveis e nunca se esquecer de questionar o que é central para a distribuição do poder e da riqueza.

Gravataí: Padre Roque Bisognin assume como referencial das CEBs do Vicariato, a partir disso retomar a articulação das CEBs no vicariato. E com muita alegria o Vicariato de Gravataí assume a realização do 29° Encontro Arquidiocesano das CEBs, na Paróquia Sagrada família.

 Na esperança de que esses compromissos se concretizem para sermos essa Igreja “em saída” a serviço da vida, em cada Comunidade de nossa arquidiocese, concluímos nosso 28° encontro arquidiocesano com uma Profética Celebração de Envio presidida por nosso Irmão e Pastor Dom Jaime Spengler, onde renovamos a nossa disposição de sermos fermento evangélico nas lutas de transformação da nossa sociedade, rumo à Terra Sem Males, com as bênçãos de Maria, mãe de Jesus e nossa Mãe, companheira da caminhada.


Canoas, 8 de novembro de 2016.  

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Carta Convite de Dom Jaime Spengler



Mensagem às Comunidades da Arquidiocese de Porto Alegre


                                               
Queridos irmãos e irmãs,

Dirijo-me às distintas comunidades que compõem nossas Paróquias e às Redes de Comunidades de nossa Arquidiocese para convidá-las para o 28º Encontro das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Esse encontro acontecerá nos dias 7 e 8 de novembro de 2015, na Rede de Comunidades Sagrado Coração de Jesus, na cidade de Canoas.

O encontro tem como tema “CEBs – Fermento de Transformação da Sociedade” e o lema “Povo de Deus, dialogando com as realidades a Serviço da Vida”.

As Comunidades Eclesiais de Base são um instrumento que permite ao povo “chegar a um conhecimento maior da Palavra de Deus, ao compromisso social em nome do Evangelho, ao surgimento de novos serviços leigos e à educação da fé dos adultos” (Doc. de Aparecida, n.178). As Comunidades Eclesiais de Base “trazem um novo ardor evangelizador e uma capacidade de diálogo com o mundo que renovam a Igreja” (Evangelii Gaudium, 29).

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil destacou recentemente o fato de que as Comunidades Eclesiais de Base “são a presença da Igreja junto aos mais simples, comprometendo-se com eles em buscar uma sociedade mais justa e solidária. Elas constituem uma forma privilegiada de vivência comunitária da fé, inserida no seio da sociedade em perspectiva profética” (Doc. 100, n. 229).

Possa esse 28º encontro ser expressão da fé de um povo que tem consciência de ser fermento de transformação da sociedade, segundo os critérios do Reino anunciado por Jesus Cristo.

Invocamos as luzes do Espírito Santo de Deus para a preparação e a realização desse encontro, a fim que, unidos na fé, possam ser encontradas indicações seguras para a construção de uma ‘Terra sem males’.

Confio os trabalhos de preparação deste Encontro à intercessão, inspiração e proteção da Santa Mãe de Deus.



Dom Jaime Spengler
Arcebispo de Porto Alegre


domingo, 20 de setembro de 2015

Encontro da Casa da Partilha



“Jesus não teme às perguntas dos homens, da humanidade… Pelo contrário, conhece o profundo do coração humano e, como bom pedagogo, está sempre disposto a acompanhar-nos. Fiel ao seu estilo, ele assume os nossos interrogativos, aspirações, conferindo-lhes um novo horizonte; dá uma resposta que propõe novos desafios; propõe a lógica do amor; uma lógica capaz de ser vivida por todos, porque é para todos”...
“Servir significa, em grande parte, cuidar da fragilidade: cuidar dos mais fracos das nossas famílias, da sociedade, do povo, que são os rostos sofredores, indefesos e angustiados, que Jesus convida a amar. Trata-se de um amor que se traduz em ação e decisão, que convida a defender, assistir, servir. Ser cristão é servir e lutar pela dignidade dos irmãos e não nossa. Todos somos chamados, por vocação cristã, a servir. Isto não quer dizer servilismo, mas promoção da pessoa humana”...
“Convido-os a cuidar desta vocação, a cuidar destes dons que Deus lhes deu, mas, sobretudo, convido-os a cuidar e servir, de modo especial, da fragilidade dos seus irmãos. Não se descuidem deles por causa dos seus projetos, que podem parecer sedutores. Somos testemunhas da força da ressurreição de Jesus, para a construção de um mundo novo”.
[Papa Francisco em discurso em Cuba, 20/09/2015]



Irmas e Irmãos,

Mais uma vez na alegria do encontro e da articulação do Povo do Deus ousamos nos reunir na Casa da Partilha.

Se aproxima cada vez mais nosso grande 28° Encontro das CEBs de nossa Arquidiocese. Nessa expectativa e organização vamos nos reunir para refletir sobre o tema e lema do 28° e ver como estão os andamentos das equipes de serviços do encontro.

Venham! Vamos juntas e juntos construir esse encontro.

O que: Casa da Partilha
Quando: 27 de setembro
Que horas: 14hs
Onde: Comunidade Sagrado Coração de Jesus- Rede de Comunidades Sagrado Coração de Jesus
Rua Marechal Mallet, 112 – Bairro Harmonia - Canoas 

Como chegar:
-Trensurb – Estação Canoas – ônibus integração Harmonia (VICASA), descer em Surdinas Zandoná (R. República com a Clóvis Biviláqua – voltar pela Eça de Queiroz, Carlos Gomes e Marechal Mallet).
-Trensurb – Estação Canoas (descendo à pé – 15 minutos), pegar a Rua Coronel Vicente, Saldanha da Gama, Coronel Camisão, Marechal Mallet.
-Porto Alegre (empresa VICASA - Viaduto da Conceição), descer em Surdinas Zandoná (R. República com a Clóvis Biviláqua – voltar pela Eça de Queiroz, Carlos Gomes e Marechal Mallet).
-Centro de Canoas (lado direito do trensurb), empresa SOGAL, Linha Vila Cerne, descer na parada 42.
-Centro de Canoas (lado direito do Trensurb), empresa SOGAL, Linha Porto Belo, descer na parada 42.

- Contato: Fr. Wilson – 9991-1668 ou Secretaria – 34722883


quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Pequenas reflexões sobre o tema e lema do 28° Arquidiocesano das CEBs de PoA.


Costurando Novas Realidades - Com os olhos na vida do Povo

    Gestar, pensar, organizar um encontro não é tarefa fácil, ainda mais quando este não é qualquer encontro. Os encontros das CEBs de nossa Arquidiocese de Porto Alegre são os grandes momentos de celebração da nossa caminhada, partilha das experiências comunitárias, e também um momento de sonhar novos rumos.
    Assim, como em toda caminhada das comunidades, o 28° Encontro Arquidiocesano das CEBs vem sendo construído em mutirão. Sua construção parte do chão que pisamos, das experiências, sedes e anseios de cada militante das comunidades. Esta foi tarefa primeira pra sabermos o que queríamos desse encontro. A partir das nossas próprias realidades começamos a dar corpo pro 28°. Tarefa segunda foi escolher uma temática.
    Tendo em vista que essa temática deve ressoar na vida das comunidades pelos próximos dois, três anos, a tarefa de começarmos a delinear Tema e Lema foi importantíssima para nossa construção. Tínhamos presente que a escolha da temática sempre procura estar em sintonia com a caminhada das CEBs a nível estadual e nacional. Como no momento não tinham sido escolhidas essas temáticas, nos propomos a seguir adiante em nossas escolhas. Mas não estávamos muito longe, pois, as reflexões tanto a nível estadual como nacional seguiram pelo mesmo caminho.
Em nossa construção foram surgindo apontamentos importantes e profundos que nos deram base pra nossa escolha:

- As realidades de nossas comunidades;
- As várias transformações das realidades sociais e eclesiais:
- Os novos excluídos/as da sociedade - como ser voz profética neste contexto?
- As juventudes, o diálogo com as minorias da sociedade;
- A mobilidade urbana;
- A desigualdade social – O capitalismo destruindo a vida e levantando nossos clamores: pobreza, câncer, violência, lixo, ameaça ecológica, etc;
- Protagonismo Popular X Poder das Elites;
- As Comunidades Proféticas - A Igreja a serviço da justiça; a nova sociedade protagonizada pelos Profetas de ontem e hoje; o momento eclesial, com a abertura do Papa Francisco que deseja uma “Igreja em saída”, mais Samaritana que dialogue com as minorias.
- Os ecos do 13º Intereclesial, com seu Tema e Lema: Como dar continuidade?
- A Campanha da Fraternidade de 2015, que tem como tema “Fraternidade: Igreja e Sociedade” e lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10,45). Inserindo a campanha nas comemorações do jubileu do Concílio Vaticano II, com base nas reflexões propostas pela Constituição Dogmática Lumen Gentium e a Constituição Pastoral Gaudium et Spes, que tratam da missão da Igreja no mundo.
 - o Jubileu dos 50 anos do Concílio Vaticano II.

Por fim, inspirados pelo Espírito Santo de Deus, fomos gerando o tema e lema, costurando as várias sugestões que foram surgindo. Ficou assim:

Tema: CEBs – Fermento de Transformação da Sociedade!
Lema: Povo de Deus, Dialogando com as Realidades a Serviço da Vida.

    O próximo passo agora é saber como esse tema e lema nos ajudam a refletir, e nos posicionarmos frente os vários desafios que essas realidades nos apresentam.
    O que de fato implica afirmarmos que as CEBs são Fermento de Transformação? Qual a conduta, o posicionamento que esperamos das CEBs perante situações que não condizem com o Projeto de Deus? E sobre a Sociedade, o que queremos transformar? O que está acontecendo ao nosso redor que não nos agrada?
    Somos Povo de Deus, um povo escolhido. Ops! Escolhido pra quê? Qual nossa missão enquanto cristãos/ãs seguidores/as do CAMINHO percorrido por Jesus de Nazaré? O que estamos fazendo para atender ao pedido do Papa Francisco de sermos essa Igreja em saída, Samaritana, mais aberta, acolhedora e profética? Qual nosso posicionamento político perante a atual conjuntura do país? Ou ainda pensamos que igreja (fé, religião) e política não se misturam e não se discutem?
    Dialogando: Interessante! Ao dizer que somos povo que dialoga não nos colocamos a parte das diversas realidades onde estamos inseridos, mas nos mantemos em contato-diálogo, às vezes mais perto, às vezes mais distante. Quais são mesmo essas Realidades de nossa sociedade e igreja que queremos transformar? Olhando para essas realidades, quem são esses novos excluídos/as? Eles/as têm rosto? Corpo? Sofrem? Por quê? Como nós, CEBs, podemos contribuir para que eles/as se tornem sujeitos/as e transformem essas realidades de exclusão?
    Bom, nesses caminhos certos e incertos, em meio a tantas perguntas, dúvidas, desejos e anseios, nossa fé sempre nos aponta caminhos, nos põe a Serviço da Vida. E é esse desejo por Vida que nos leva a olhar pra vida do povo, enxergar essas novas realidades, recriando as relações, unindo lutas comuns e formando comunidades.
    Com Coragem e Ousadia, sigamos os próximos passos pra fazer as transformações acontecerem.


Texto extraído da cartilha de estudos do 28° Enc Arquidiocesano de CEBs.


O 28° Encontro das CEBs da Arquidiocese de Porto Alegre Acontece nos dia 07 e 08 de novembro de 2015. Para ter acesso a Cartilha de estudos do encontro clique AQUI e para se inscrever pra participar clique AQUI.

sábado, 5 de setembro de 2015

Cartilha do 28° Encontro Arquidiocesano das CEBs



Irmãs e Irmãos,

Coragem e Ousadia!

Com muita alegria partilhamos com vocês a cartilha de estudos em preparação ao 28° Enc. das CEBs da arquidiocese de Porto Alegre.
Nosso encontro vai ocorrer dias 07 e 08 de novembro próximo na Comunidade Sagrado Coração de Jesus em Canoas com os tema e lema respectivamente:

CEBs - Fermento de Transformação da Sociedade.
Povo de Deus, Dialogando com as Realidades a Serviço da Vida.

Para ajudar na preparação do encontro preparamos uma cartilha de estudos com reflexões sobre tema e lema do encontro e sub-temas que serão trabalhados em oficinas durante o encontro. Além dos textos a cartilha contem uma Carta de Dom Jaime Spengler convidando para o encontro, a Carta do Papa Francisco em ocasião do 13° Encontro Nacional das CEBs, cantos populares das CEBs, mais informações sobre o encontro e a Oração na contracapa.

A idéia é que os textos sejam lidos e debatidos nas comunidades, em grupos de famílias, entre os/as delegados/as do encontro e demais lideranças das comunidades. Todas as reflexões obtidas com os estudos serão retomadas nos dias do encontro, por isso, pedimos que as mesmas sejam repassadas para as lideranças das CEBs dos Vicariatos. Caso você não seja da Arquidiocese e deseja participar do encontro entre em contato pelo e-mail: casadapartilhapoa@gmail.com, ou com um dos endereços eletrônicos ou telefones contidos no final da cartilha e nos envie também suas reflexões e sugestões.

As Cartilhas impressas já estão sendo distribuídas nas comunidades, mas se você não teve acesso segue abaixo a cartilha para download. Casa não esteja conseguindo baixar entre em contato pelo
e-mail: es.marcelosoar@gmail.com, que enviamos a cartilha.

Uma boa leitura e até o 28°!

Inscrição para o 28° Arquidiocesano das CEBs



Irmãs e Irmãos,

Coragem e Ousadia!

E com muito prazer e ansiosidade que iniciamos as inscrições para o 28° Encontro das Comunidades Eclesiais de Base da Arquidiocese de Porto Alegre
Nosso encontro vai ocorrer dias 07 e 08 de novembro próximo na Comunidade Sagrado Coração de Jesus em Canoas com os tema e lema respectivamente:

CEBs - Fermento de Transformação da Sociedade.
Povo de Deus, Dialogando com as Realidades a Serviço da Vida.

As fichas de inscrições já estão sendo distribuídas nas comunidades de nossos Vicariatos, mas se você não esta ligado a nenhuma comunidade ou é de outra diocese mas deseja participar do encontro dispomos abaixo a ficha de inscrição para download.

Preencha a ficha e nos envie para o email: casadapartilhapoa@gmail.com.

Ao receber sua ficha podemos passar mais informações sobre o encontro.

É com muita alegria e ansiedade que esperamos sua inscrição.

Com a Coragem e Ousadia dos/as Santos/as Mártires, 
Há-Braços!












* Para fazer o Download Clique na imagem acima, quando abrir a ficha de inscrição clique no botão no canto inferior direito [circulado em vermelho conforme imagem ao lado] e em seguida clique em download.

** Verifique em sua pasta de download se deu certo, se você não conseguiu nos peça a ficha pelo e-mail: casadapartilhapoa@gmail.com

sexta-feira, 31 de julho de 2015

Minha história em Santa Cruz de La Sierra – Bolívia

Por Adelaide Maria Klein*


Ao atender uma ligação de um grande amigo, Waldir, me convidando para o Encontro dos Movimentos Populares na Bolívia, não poderia jamais imaginar que resultaria numa experiência tão marcante quanto esta vivida durante os dias 5 a 12 de julho. Encontrar com os Movimentos Populares da América Latina, Movimento dos Sem Terra, Pequenos Agricultores, Mov. Atingidos por Barragens, Mov. de Mulheres Camponesas, Via Campesina, Levante da Juventude, Comunidades Eclesiais de Base, Trabalhadores e Trabalhadoras de Artesanato, Recuperação de Fábricas, Movimento Nacional de Luta por Moradia, Quilombolas, Grupos Indígenas, entre outros tantos. Encontrar um indígena Presidente da República Plurinacional da Bolívia, Evo Morales, e encontrar o Papa Francisco, um papa que depois de muito tempo se identifica com os pobres, com os excluídos, devolvendo-lhes a esperança, motivando-os e reforçando a fé num Deus libertador, o “Deus (que) ouviu o clamor de seu povo”, reforçando a “fé revolucionária”!!!

Antes ainda de relatar a minha experiência durante estes dias, não posso deixar de agradecer a solidariedade de amigos e amiga, irmãos e irmã, de perto e de longe que ajudaram a possibilitar financeiramente esta participação.

Foi encantador iniciarmos esta longa jornada de ônibus e ver a diversidade e a riqueza de pessoas e representações. Alguns já se conheciam, mas a maioria não. Uniam-nos os objetivos tão comuns, as mesmas dores por estarmos vivendo aqui no Brasil um retrocesso na conjuntura política, social, mas também os mesmos sonhos de que a nossa força e organização podem construir um outro mundo possível.

Por ser uma viagem longa, por dificuldades de várias ordens, fomos nos superando e solidarizando ainda no caminho, quando um companheiro e uma companheira não puderam entrar na Bolívia, por problemas na documentação, assim permanecendo em Corumbá- MS até a nossa volta.
Ainda no ônibus, ao distribuirmos o material resultado do I Encontro Mundial de Movimentos Populares em outubro de 2014, descobrimos que um dos presentes, o Rodrigo do Levante Popular da Juventude, havia participado deste.



Por conta de alguns encaminhamentos, ou a falta destes, chegamos com um dia de atraso na Bolívia, perdendo a abertura e o primeiro dia de trabalhos (dia 7). Chegamos quase às 3:00h, horário da Bolívia, na escola que nos alojou, Módulo Educativo Humberto Vasquez Machado. Lá nos aguardavam com a janta e para nos encaminhar aos quartos e salas.

O tema do Encontro – Madre Tierra, Techo, Trabajo, Integración de los Pueblos – já nos instigava por si só, pois reunia todas as mazelas da humanidade.

Chegar ao Coliseu (um dos muitos ginásios de esportes) e ver tanta diversidade de povos, etnias, cores e movimentos, ver os olhos de tanta gente brilharem e se motivarem a cada colocação que nos contemplava, mas que também nos desafiava a lutar sempre mais. Em vários momentos, as denúncias de violações de Direitos nos chocavam. Aprendemos também sobre a importância da coca para o povo Boliviano, que a todo momento nos oferecia bons punhados da folhinha, assim como nós gaúchos e gaúchas oferecemos o nosso melhor chimarrão para quem chega ao nosso encontro, para sair revigorado em mais uma andança ou caminhada. Descobrir o significado da linda bandeira colorida, quadriculada a Whiphala, as sete cores, perfeição…. fiquei maravilhada! As trocas de experiências com movimentos de outras regiões e países, ver o povo campesino falar com paixão da terra e do que se produz nela, ou o que está matando a terra e nossa gente.  Nos trabalhos de grupos, levantar as necessidades para as mudanças que são urgentes, o clamor por reforma e repartição das terras, o cuidado com a água que está acabando, os transgênicos que precisam ser barrados, os agrotóxicos que matam toda a vida do planeta, a terra que precisa ser vista muito mais que terra para plantar, para nos pertencer, uma terra que deve ser vista como parte essencial nossa, pois nós é que pertencemos a ela (nunca mais me esquecerei disso). A grande expectativa era absorver todas as contribuições e necessidades para entregar o documento ao Papa Francisco, que embora seja uma das maiores autoridades religiosas do mundo, em nossos sentimentos, era o “Chiquinho”, um de nós, um dos nossos!!! Mas um dos nossos que se dispôs a construir com o povo simples, trabalhador, organizado, que consegue ser criativo e achar soluções e saídas para as necessidades, que são tantas, para que todos e todas tenham vida digna, na sociedade do “Bem Viver”!!!

Por vários momentos a emoção tomou conta de mim ao ver aquelas fileiras de povos nas ruas, que caminhavam com esperança, com gritos de ordem, com canções que animavam e encorajavam a luta e a caminhada para o encontro com o Papa Francisco!!!

A expectativa do encontro com o Papa é algo inexplicável. Por tudo o que ele representa, é diferente de tudo… porque ali tem uma esperança real, uma identificação diferente de outras, uma autoridade que se coloca a serviço, se coloca com os pequenos…. Bem, o povo tentou se atropelar para chegar ao papa, tocá-lo, cumprimentá-lo…. e ele sempre generoso, sorridente, maravilhoso.

As falas do presidente Evo Morales, um estadista muito querido pelo povo boliviano, foram muito aplaudidas, especialmente quando disse: “Aqui na Bolívia Gringo não vem mandar, aqui na Bolívia quem manda são os índios!!!!”

Mas, diante das falas do Papa Francisco ali na Expocruz, meus pensamentos se voltavam ao nosso querido Brasil, ao nosso povo, às nossas comunidades. Tantos problemas, tantas dificuldades, a fase cruel de luta de classes que está fortemente instalada no Brasil, a situação política social que vem num retrocesso de perda de Direitos, as políticas de estado que não têm priorizado e trabalhado para o povo. Lembrei das nossas Comunidades Eclesiais de Base e fiquei pensando se não era necessário fazer acontecer um grande sínodo, mas muito grande, com todo o clero, para absorver nas falas e na prática as mudanças necessárias e tudo o que implica em uma cultura de paz, uma cultura do “Bem Viver” aos cristãos e cristãs!!!

Por várias vezes Francisco repetiu a necessidade de não haver “Ninguna familia sem Techo, Ningún Campesino sin Tierra, Ningún Trabajador sin Derechos”. E a nossa realidade é tão dura… Por isso, muita luta e organização nos aguardam!!!

Saio de Santa Cruz de La Sierra com uma certeza: a Divina Ruah continua soprando o seu Espirito, a sua luz. Onde e quando a gente não sabe, não vê, nada sabe, possibilitando que a “ Fé Revolucionária” e a Esperança renasçam e se fortaleçam sempre!!!

*Adelaide Maria Klein [no centro] faz parte do Centro de Estudos Bíblicos – CEBI, CEBs e Movimentos Populares. Foi convidada a representar estas entidades no encontro dos Movimentos Populares com o Papa.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

Solidariedade com os atingidos pelas cheias no RS

A forte chuva que atinge o Rio Grande do Sul nas últimas semanas deixaram dezenas de famílias desalojadas no estado. Muitos moradores perderam seus pertences com o alagamento das casas. Em solidariedade com esses irmãos e irmãs, vamos contribuir na campanha de doações de roupas e alimentos para ajudar as famílias atingidas.

Então nesse domingo no encontro da Casa da Partilha, estamos pedindo que se traga 1kg de alimento não perecível e roupas, que serão destinadas aos centros de coleta.

Para quem quiser ajudar as famílias atingidas pela chuva no Rio Grande do Sul, a Defesa Civil Estadual está concentrando as doações nos pontos de coleta da Campanha do Agasalho. Os itens mais solicitados são roupas, calçados, alimentos não-perecíveis e materiais de limpeza e higiene.

Confira abaixo os principais pontos de coleta de doações:

 Gravataí
As doações podem ser entregues no Ginásio Aldeião, na Avenida Adolfo Inácio Barcelos, esquina com a Avenida Centenário, até as 22h. A Defesa Civil atende pelos telefones 153 ou 9332.7385. São solicitados colchões, cobertores, roupas (adulto e infantil), meias, roupas de cama e sapatos.

 Alvorada
O município já soma 120 pessoas desabrigadas, sendo 60 no Centro de Educação Profissionalizante Anísio Teixeira, que fica na Rua Wenceslau Fontoura, número 556, no bairro Nova Americana. Outras 60 estão no Ginásio Municipal Tancredo Neves, na Avenida Presidente Getúlio Vargas, número 3290, bairro Bela Vista. As doações podem ser feitas neses locais.

Novo Hamburgo
A Defesa Civil de Novo Hamburgo informa que as doações podem ser feitas na sede da Guarda Militar. Mais informações podem ser consultadas pelos telefones 153 e (051) 3524-8773.

Esteio
Doações podem ser feitas na Casa de Cultura da cidade, localizada na rua Padre Felipe, 900, no Centro e também no Ginásio Municipal Edgar Piccioni, na rua Taquara, 225, (esquina com a rua 24 de agosto).

São Leopoldo
Doações são recebidas no ginásio municipal Celso Morbach, no Centro da cidade. Os principais itens necessários são colchões, cobertores, roupas infantis e masculinas. O telefone para mais informações é (51) 3575-1744

Campo Bom
Alimentos não perecíveis, produtos de limpeza e itens de higiene pessoal podem ser entregues na Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e Habitação - subsolo do Centro Administrativo Municipal (Avenida Independência, 800), das 8h às 18h

Em todo o Estado
A Central de Doações, localizada no Centro Administrativo Fernando Ferrari (Av. Borges de Medeiros, 1501), em Porto Alegre, recebe doações o ano todo. A Defesa Civil também está concentrando as doações nos pontos de coleta da Campanha do Agasalho: órgãos estaduais e municipais, quartéis da Brigada Militar, agências do Banrisul, supermercados da rede Zaffari e em farmácias da Panvel.

A Defesa Civil do Estado atende emergências pelo telefone 199 ou (051) 3210-4219.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

Encontro da Casa da Partilha



"Que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo, limpador, reciclador, frente a tantos problemas, se mal ganho para comer? Que posso fazer eu, artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular, se não tenho sequer direitos laborais? Que posso fazer eu, camponesa, indígena, pescador que dificilmente consigo resistir à propagação das grandes corporações? Que posso fazer eu, a partir da minha comunidade, do meu barraco, da minha povoação, da minha favela, quando sou diariamente discriminado e marginalizado? Que pode fazer aquele estudante, aquele jovem, aquele militante, aquele missionário que atravessa as favelas e os paradeiros com o coração cheio de sonhos, mas quase sem nenhuma solução para os meus problemas? Muito! Podem fazer muito. Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos “3 T” (trabalho, teto, terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem!"

[Papa Francisco em discurso aos Movimentos Populares na Bolívia em 9/07/2015]



"Não se acanhem!", Temos realidades a transformar... 

Por isso, nos encontramos na Próxima Casa da Partilha.

-Dia 26/07, domingo próximo.
- Inicio 8:30 com celebração da Comunidade, em seguida seguimos até o salão para dar continuidade ao encontro.[ 9:30 começa a reunião, então não se preocupe em chegar um pouco atrasado/a, venha!]
- Local Comunidade Sagrado Coração de Jesus.
Rua Marechal Mallet, 112 – Bairro Harmonia - Canoas

Como chegar:
-Trensurb – Estação Canoas – ônibus integração Harmonia (VICASA), descer em Surdinas Zandoná (R. República com a Clóvis Biviláqua – voltar pela Eça de Queiroz, Carlos Gomes e Marechal Mallet).
-Trensurb – Estação Canoas (descendo à pé – 15 minutos), pegar a Rua Coronel Vicente, Saldanha da Gama, Coronel Camisão, Marechal Mallet.
-Porto Alegre (empresa VICASA - Viaduto da Conceição), descer em Surdinas Zandoná (R. República com a Clóvis Biviláqua – voltar pela Eça de Queiroz, Carlos Gomes e Marechal Mallet).
-Centro de Canoas (lado direito do trensurb), empresa SOGAL, Linha Vila Cerne, descer na parada 42.
-Centro de Canoas (lado direito do Trensurb), empresa SOGAL, Linha Porto Belo, descer na parada 42.

- Contato: Fr. Wilson – 9991-1668 ou Secretaria – 34722883

***Nesse dia estava marcado nosso chá pela parte da tarde, em função de uns problemas o chá foi cancelado.[Mas o encontro continua pela tarde.]
** o Almoço será Partilhado, então traga algum prato com salgados e doces para partilhar.

Organize as lideranças de suas comunidades, os/as jovens e venham participar.


Com Coragem e Ousadia,
Boa semana.



segunda-feira, 13 de julho de 2015

Discurso do Papa Francisco aos Movimentos Populares reunidos na Bolívia:

(Bolívia, Santa Cruz – Expo Feira, 9 de Julho de 2015)



Boa tarde a todos!

Há alguns meses, reunimo-nos em Roma e não esqueço aquele nosso primeiro encontro. Durante este tempo, trouxe-vos no meu coração e nas minhas orações. Alegra-me vê-vos de novo aqui, debatendo os melhores caminhos para superar as graves situações de injustiça que padecem os excluídos em todo o mundo. Obrigado Senhor Presidente Evo Morales, por sustentar tão decididamente este Encontro.

Então, em Roma, senti algo muito belo: fraternidade, paixão, entrega, sede de justiça. Hoje, em Santa Cruz de la Sierra, volto a sentir o mesmo. Obrigado! Soube também, pelo Pontifício Conselho «Justiça e Paz» presidido pelo Cardeal Turkson, que são muitos na Igreja aqueles que se sentem mais próximos dos movimentos populares. Muito me alegro por isso! Ver a Igreja com as portas abertas a todos vós, que se envolve, acompanha e consegue sistematizar em cada diocese, em cada comissão «Justiça e Paz», uma colaboração real, permanente e comprometida com os movimentos populares. Convido-vos a todos, bispos, sacerdotes e leigos, juntamente com as organizações sociais das periferias urbanas e rurais a aprofundar este encontro.

Deus permitiu que nos voltássemos a ver hoje. A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu povo e também eu quero voltar a unir a minha voz à vossa: terra, teto e trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra.

1. Comecemos por reconhecer que precisamos duma mudança. Quero esclarecer, para que não haja mal-entendidos, que falo dos problemas comuns de todos os latino-americanos e, em geral, de toda a humanidade. Problemas, que têm uma matriz global e que atualmente nenhum Estado pode resolver por si mesmo. Feito este esclarecimento, proponho que nos coloquemos estas perguntas:

- Reconhecemos nós que as coisas não andam bem num mundo onde há tantos camponeses sem terra, tantas famílias sem teto, tantos trabalhadores sem direitos, tantas pessoas feridas na sua dignidade?

- Reconhecemos nós que as coisas não andam bem, quando explodem tantas guerras sem sentido e a violência fratricida se apodera até dos nossos bairros? Reconhecemos nós que as coisas não andam bem, quando o solo, a água, o ar e todos os seres da criação estão sob ameaça constante?

Então digamo-lo sem medo: Precisamos e queremos uma mudança.

Nas vossas cartas e nos nossos encontros, relataram-me as múltiplas exclusões e injustiças que sofrem em cada atividade laboral, em cada bairro, em cada território. São tantas e tão variadas como muitas e diferentes são as formas próprias de as enfrentar. Mas há um elo invisível que une cada uma destas exclusões: conseguimos nós reconhecê-lo? É que não se trata de questões isoladas. Pergunto-me se somos capazes de reconhecer que estas realidades destrutivas correspondem a um sistema que se tornou global. Reconhecemos nós que este sistema impôs a lógica do lucro a todo o custo, sem pensar na exclusão social nem na destruição da natureza?

Se é assim – insisto – digamo-lo sem medo: Queremos uma mudança, uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema é insuportável: não o suportam os camponeses, não o suportam os trabalhadores, não o suportam as comunidades, não o suportam os povos... E nem sequer o suporta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco.

Queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa realidade mais próxima; mas uma mudança que toque também o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais para os problemas locais. A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença.

Hoje quero refletir convosco sobre a mudança que queremos e precisamos. Como sabem, recentemente escrevi sobre os problemas da mudança climática. Mas, desta vez, quero falar duma mudança noutro sentido. Uma mudança positiva, uma mudança que nos faça bem, uma mudança – poderíamos dizer – redentora. Porque é dela que precisamos. Sei que buscais uma mudança e não apenas vós: nos diferentes encontros, nas várias viagens, verifiquei que há uma expectativa, uma busca forte, um anseio de mudança em todos os povos do mundo. Mesmo dentro da minoria cada vez mais reduzida que pensa sair beneficiada deste sistema, reina a insatisfação e sobretudo a tristeza. Muitos esperam uma mudança que os liberte desta tristeza individualista que escraviza.

O tempo, irmãos e irmãs, o tempo parece exaurir-se; já não nos contentamos com lutar entre nós, mas chegamos até a assanhar-nos contra a nossa casa. Hoje, a comunidade científica aceita aquilo que os pobres já há muito denunciam: estão a produzir-se danos talvez irreversíveis no ecossistema. Está-se a castigar a terra, os povos e as pessoas de forma quase selvagem. E por trás de tanto sofrimento, tanta morte e destruição, sente-se o cheiro daquilo que Basílio de Cesareia chamava «o esterco do diabo»: reina a ambição desenfreada de dinheiro. O serviço ao bem comum fica em segundo plano. Quando o capital se torna um ídolo e dirige as opções dos seres humanos, quando a avidez do dinheiro domina todo o sistema socioeconômico, arruína a sociedade, condena o homem, transforma-o em escravo, destrói a fraternidade inter-humana, faz lutar povo contra povo e até, como vemos, põe em risco esta nossa casa comum.

Não quero alongar-me na descrição dos efeitos malignos desta ditadura subtil: vós conhecei-los! Mas também não basta assinalar as causas estruturais do drama social e ambiental contemporâneo. Sofremos de um certo excesso de diagnóstico, que às vezes nos leva a um pessimismo charlatão ou a rejubilar com o negativo. Ao ver a crónica negra de cada dia, pensamos que não haja nada que se possa fazer para além de cuidar de nós mesmos e do pequeno círculo da família e dos amigos.

Que posso fazer eu, recolhedor de papelão, catador de lixo, limpador, reciclador, frente a tantos problemas, se mal ganho para comer? Que posso fazer eu, artesão, vendedor ambulante, carregador, trabalhador irregular, se não tenho sequer direitos laborais? Que posso fazer eu, camponesa, indígena, pescador que dificilmente consigo resistir à propagação das grandes corporações? Que posso fazer eu, a partir da minha comunidade, do meu barraco, da minha povoação, da minha favela, quando sou diariamente discriminado e marginalizado? Que pode fazer aquele estudante, aquele jovem, aquele militante, aquele missionário que atravessa as favelas e os paradeiros com o coração cheio de sonhos, mas quase sem nenhuma solução para os meus problemas? Muito! Podem fazer muito. Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos “3 T” (trabalho, teto, terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem!

2. Vós sois semeadores de mudança. Aqui, na Bolívia, ouvi uma frase de que gosto muito: «processo de mudança». A mudança concebida, não como algo que um dia chegará porque se impôs esta ou aquela opção política ou porque se estabeleceu esta ou aquela estrutura social. Sabemos, amargamente, que uma mudança de estruturas, que não seja acompanhada por uma conversão sincera das atitudes e do coração, acaba a longo ou curto prazo por burocratizar-se, corromper-se e sucumbir. Por isso gosto tanto da imagem do processo, onde a paixão por semear, por regar serenamente o que outros verão florescer, substitui a ansiedade de ocupar todos os espaços de poder disponíveis e de ver resultados imediatos. Cada um de nós é apenas uma parte de um todo complexo e diversificado interagindo no tempo: povos que lutam por uma afirmação, por um destino, por viver com dignidade, por «viver bem».

Vós, a partir dos movimentos populares, assumis as tarefas comuns motivados pelo amor fraterno, que se rebela contra a injustiça social. Quando olhamos o rosto dos que sofrem, o rosto do camponês ameaçado, do trabalhador excluído, do indígena oprimido, da família sem teto, do imigrante perseguido, do jovem desempregado, da criança explorada, da mãe que perdeu o seu filho num tiroteio porque o bairro foi tomado pelo narcotráfico, do pai que perdeu a sua filha porque foi sujeita à escravidão; quando recordamos estes «rostos e nomes» estremecem-nos as entranhas diante de tanto sofrimento e comovemo-nos…. Porque «vimos e ouvimos», não a fria estatística, mas as feridas da humanidade dolorida, as nossas feridas, a nossa carne. Isto é muito diferente da teorização abstrata ou da indignação elegante. Isto comove-nos, move-nos e procuramos o outro para nos movermos juntos. Esta emoção feita ação comunitária é incompreensível apenas com a razão: tem um plus de sentido que só os povos entendem e que confere a sua mística particular aos verdadeiros movimentos populares.

Vós viveis, cada dia, imersos na crueza da tormenta humana. Falastes-me das vossas causas, partilhastes comigo as vossas lutas. E agradeço-vos. Queridos irmãos, muitas vezes trabalhais no insignificante, no que aparece ao vosso alcance, na realidade injusta que vos foi imposta e a que não vos resignais opondo uma resistência ativa ao sistema idólatra que exclui, degrada e mata. Vi-vos trabalhar incansavelmente pela terra e a agricultura camponesa, pelos vossos territórios e comunidades, pela dignificação da economia popular, pela integração urbana das vossas favelas e agrupamentos, pela autoconstrução de moradias e o desenvolvimento das infraestruturas do bairro e em muitas atividades comunitárias que tendem à reafirmação de algo tão elementar e inegavelmente necessário como o direito aos “3 T”: terra, teto e trabalho.

Este apego ao bairro, à terra, ao território, à profissão, à corporação, este reconhecer-se no rosto do outro, esta proximidade no dia-a-dia, com as suas misérias e os seus heroísmos quotidianos, é o que permite realizar o mandamento do amor, não a partir de ideias ou conceitos, mas a partir do genuíno encontro entre pessoas, porque não se amam os conceitos nem as ideias; amam-se as pessoas. A entrega, a verdadeira entrega nasce do amor pelos homens e mulheres, crianças e idosos, vilarejos e comunidades... Rostos e nomes que enchem o coração. A partir destas sementes de esperança semeadas pacientemente nas periferias esquecidas do planeta, destes rebentos de ternura que lutam por subsistir na escuridão da exclusão, crescerão grandes árvores, surgirão bosques densos de esperança para oxigenar este mundo.

Vejo, com alegria, que trabalhais no que aparece ao vosso alcance, cuidando dos rebentos; mas, ao mesmo tempo, com uma perspectiva mais ampla, protegendo o arvoredo. Trabalhais numa perspectiva que não só aborda a realidade setorial que cada um de vós representa e na qual felizmente está enraizada, mas procurais também resolver, na sua raiz, os problemas gerais de pobreza, desigualdade e exclusão.

Felicito-vos por isso. É imprescindível que, a par da reivindicação dos seus legítimos direitos, os povos e as suas organizações sociais construam uma alternativa humana à globalização exclusiva. Vós sois semeadores de mudança. Que Deus vos dê coragem, alegria, perseverança e paixão para continuar a semear. Podeis ter a certeza de que, mais cedo ou mais tarde, vamos ver os frutos. Peço aos dirigentes: sede criativos e nunca percais o apego às coisas próximas, porque o pai da mentira sabe usurpar palavras nobres, promover modas intelectuais e adoptar posições ideológicas, mas se construirdes sobre bases sólidas, sobre as necessidades reais e a experiência viva dos vossos irmãos, dos camponeses e indígenas, dos trabalhadores excluídos e famílias marginalizadas, de certeza não vos equivocareis.

A Igreja não pode nem deve ser alheia a este processo no anúncio do Evangelho. Muitos sacerdotes e agentes pastorais realizam uma tarefa imensa acompanhando e promovendo os excluídos em todo o mundo, ao lado de cooperativas, dando impulso a empreendimentos, construindo casas, trabalhando abnegadamente nas áreas da saúde, desporto e educação. Estou convencido de que a cooperação amistosa com os movimentos populares pode robustecer estes esforços e fortalecer os processos de mudança.

No coração, tenhamos sempre a Virgem Maria, uma jovem humilde duma pequena aldeia perdida na periferia dum grande império, uma mãe sem teto que soube transformar um curral de animais na casa de Jesus com uns pobres paninhos e uma montanha de ternura. Maria é sinal de esperança para os povos que sofrem dores de parto até que brote a justiça. Rezo à Virgem do Carmo, padroeira da Bolívia, para fazer com que este nosso Encontro seja fermento de mudança.

3. Por último, gostaria que refletíssemos, juntos, sobre algumas tarefas importantes neste momento histórico, pois queremos uma mudança positiva em benefício de todos os nossos irmãos e irmãs. Disto estamos certos! Queremos uma mudança que se enriqueça com o trabalho conjunto de governos, movimentos populares e outras forças sociais. Sabemos isto também! Mas não é tão fácil definir o conteúdo da mudança, ou seja, o programa social que reflita este projeto de fraternidade e justiça que esperamos. Neste sentido, não esperem uma receita deste Papa. Nem o Papa nem a Igreja têm o monopólio da interpretação da realidade social e da proposta de soluções para os problemas contemporâneos. Atrever-me-ia a dizer que não existe uma receita. A história é construída pelas gerações que se vão sucedendo no horizonte de povos que avançam individuando o próprio caminho e respeitando os valores que Deus colocou no coração.

Gostaria, no entanto, de vos propor três grandes tarefas que requerem a decisiva contribuição do conjunto dos movimentos populares:

3.1 A primeira tarefa é pôr a economia ao serviço dos povos.

Os seres humanos e a natureza não devem estar ao serviço do dinheiro. Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra.

A economia não deveria ser um mecanismo de acumulação, mas a condigna administração da casa comum. Isto implica cuidar zelosamente da casa e distribuir adequadamente os bens entre todos. A sua finalidade não é unicamente garantir o alimento ou um «decoroso sustento». Não é sequer, embora fosse já um grande passo, garantir o acesso aos “3 T” pelos quais combateis. Uma economia verdadeiramente comunitária – poder-se-ia dizer, uma economia de inspiração cristã – deve garantir aos povos dignidade, «prosperidade e civilização em seus múltiplos aspectos».[1] Isto envolve os “3 T” mas também acesso à educação, à saúde, à inovação, às manifestações artísticas e culturais, à comunicação, ao desporto e à recreação. Uma economia justa deve criar as condições para que cada pessoa possa gozar duma infância sem privações, desenvolver os seus talentos durante a juventude, trabalhar com plenos direitos durante os anos de atividade e ter acesso a uma digna aposentação na velhice. É uma economia onde o ser humano, em harmonia com a natureza, estrutura todo o sistema de produção e distribuição de tal modo que as capacidades e necessidades de cada um encontrem um apoio adequado no ser social. Vós – e outros povos também – resumis este anseio duma maneira simples e bela: «viver bem».

Esta economia é não apenas desejável e necessária, mas também possível. Não é uma utopia, nem uma fantasia. É uma perspectiva extremamente realista. Podemos consegui-la. Os recursos disponíveis no mundo, fruto do trabalho intergeneracional dos povos e dos dons da criação, são mais que suficientes para o desenvolvimento integral de «todos os homens e do homem todo».[2] Mas o problema é outro. Existe um sistema com outros objetivos. Um sistema que, apesar de acelerar irresponsavelmente os ritmos da produção, apesar de implementar métodos na indústria e na agricultura que sacrificam a Mãe Terra na ara da «produtividade», continua a negar a milhares de milhões de irmãos os mais elementares direitos económicos, sociais e culturais. Este sistema atenta contra o projeto de Jesus.

A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral. Para os cristãos, o encargo é ainda mais forte: é um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres e às pessoas o que lhes pertence. O destino universal dos bens não é um adorno retórico da doutrina social da Igreja. É uma realidade anterior à propriedade privada. A propriedade, sobretudo quando afeta os recursos naturais, deve estar sempre em função das necessidades das pessoas. E estas necessidades não se limitam ao consumo. Não basta deixar cair algumas gotas, quando os pobres agitam este copo que, por si só, nunca derrama. Os planos de assistência que acodem a certas emergências deveriam ser pensados apenas como respostas transitórias. Nunca poderão substituir a verdadeira inclusão: a inclusão que dá o trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário.

Neste caminho, os movimentos populares têm um papel essencial, não apenas exigindo e reclamando, mas fundamentalmente criando. Vós sois poetas sociais: criadores de trabalho, construtores de casas, produtores de alimentos, sobretudo para os descartados pelo mercado global.

Conheci de perto várias experiências, onde os trabalhadores, unidos em cooperativas e outras formas de organização comunitária, conseguiram criar trabalho onde só havia sobras da economia idólatra. As empresas recuperadas, as feiras francas e as cooperativas de catadores de papelão são exemplos desta economia popular que surge da exclusão e que pouco a pouco, com esforço e paciência, adopta formas solidárias que a dignificam. Quão diferente é isto do facto de os descartados pelo mercado formal serem explorados como escravos!

Os governos que assumem como própria a tarefa de colocar a economia ao serviço das pessoas devem promover o fortalecimento, melhoria, coordenação e expansão destas formas de economia popular e produção comunitária. Isto implica melhorar os processos de trabalho, prover de adequadas infraestruturas e garantir plenos direitos aos trabalhadores deste sector alternativo. Quando Estado e organizações sociais assumem, juntos, a missão dos “3 T”, ativam-se os princípios de solidariedade e subsidiariedade que permitem construir o bem comum numa democracia plena e participativa.

3.2 A segunda tarefa é unir os nossos povos no caminho da paz e da justiça.

Os povos do mundo querem ser artífices do seu próprio destino. Querem caminhar em paz para a justiça. Não querem tutelas nem interferências, onde o mais forte subordina o mais fraco. Querem que a sua cultura, o seu idioma, os seus processos sociais e tradições religiosas sejam respeitados. Nenhum poder efetivamente constituído tem direito de privar os países pobres do pleno exercício da sua soberania e, quando o fazem, vemos novas formas de colonialismo que afetam seriamente as possibilidades de paz e justiça, porque «a paz funda-se não só no respeito pelos direitos do homem, mas também no respeito pelo direito dos povos, sobretudo o direito à independência».[3]

Os povos da América Latina alcançaram, com um parto doloroso, a sua independência política e, desde então, viveram já quase dois séculos duma história dramática e cheia de contradições procurando conquistar uma independência plena.

Nos últimos anos, depois de tantos mal-entendidos, muitos países latino-americanos viram crescer a fraternidade entre os seus povos. Os governos da região juntaram seus esforços para fazer respeitar a sua soberania, a de cada país e a da região como um todo que, de forma muito bela como faziam os nossos antepassados, chamam a «Pátria Grande». Peço-vos, irmãos e irmãs dos movimentos populares, que cuidem e façam crescer esta unidade. É necessário manter a unidade contra toda a tentativa de divisão, para que a região cresça em paz e justiça.

Apesar destes avanços, ainda subsistem fatores que atentam contra este desenvolvimento humano equitativo e coarctam a soberania dos países da «Pátria Grande» e doutras latitudes do Planeta. O novo colonialismo assume variadas fisionomias. Às vezes, é o poder anónimo do ídolo dinheiro: corporações, credores, alguns tratados denominados «de livre comércio» e a imposição de medidas de «austeridade» que sempre apertam o cinto dos trabalhadores e dos pobres. Os bispos latino-americanos denunciam-no muito claramente, no documento de Aparecida, quando afirmam que «as instituições financeiras e as empresas transnacionais se fortalecem ao ponto de subordinar as economias locais, sobretudo debilitando os Estados, que aparecem cada vez mais impotentes para levar adiante projetos de desenvolvimento a serviço de suas populações».[4] Noutras ocasiões, sob o nobre disfarce da luta contra a corrupção, o narcotráfico ou o terrorismo – graves males dos nossos tempos que requerem uma acção internacional coordenada – vemos que se impõem aos Estados medidas que pouco têm a ver com a resolução de tais problemáticas e muitas vezes tornam as coisas piores.

Da mesma forma, a concentração monopolista dos meios de comunicação social que pretende impor padrões alienantes de consumo e certa uniformidade cultural é outra das formas que adopta o novo colonialismo. É o colonialismo ideológico. Como dizem os bispos da África, muitas vezes pretende-se converter os países pobres em «peças de um mecanismo, partes de uma engrenagem gigante».[5]

Temos de reconhecer que nenhum dos graves problemas da humanidade pode ser resolvido sem a interação dos Estados e dos povos a nível internacional. Qualquer ato de envergadura realizado numa parte do Planeta repercute-se no todo em termos económicos, ecológicos, sociais e culturais. Até o crime e a violência se globalizaram. Por isso, nenhum governo pode atuar à margem duma responsabilidade comum. Se queremos realmente uma mudança positiva, temos de assumir humildemente a nossa interdependência. Mas interação não é sinônimo de imposição, não é subordinação de uns em função dos interesses dos outros. O colonialismo, novo e velho, que reduz os países pobres a meros fornecedores de matérias-primas e mão de obra barata, gera violência, miséria, emigrações forçadas e todos os males que vêm juntos... precisamente porque, ao pôr a periferia em função do centro, nega-lhes o direito a um desenvolvimento integral. Isto é desigualdade, e a desigualdade gera violência que nenhum recurso policial, militar ou dos serviços secretos será capaz de deter.

Digamos NÃO às velhas e novas formas de colonialismo. Digamos SIM ao encontro entre povos e culturas. Bem-aventurados os que trabalham pela paz.

Aqui quero deter-me num tema importante. É que alguém poderá, com direito, dizer: «Quando o Papa fala de colonialismo, esquece-se de certas ações da Igreja». Com pesar, vo-lo digo: Cometeram-se muitos e graves pecados contra os povos nativos da América, em nome de Deus. Reconheceram-no os meus antecessores, afirmou-o o CELAM e quero reafirmá-lo eu também. Como São João Paulo II, peço que a Igreja «se ajoelhe diante de Deus e implore o perdão para os pecados passados e presentes dos seus filhos».[6] E eu quero dizer-vos, quero ser muito claro, como foi São João Paulo II: Peço humildemente perdão, não só para as ofensas da própria Igreja, mas também para os crimes contra os povos nativos durante a chamada conquista da América.

Peço-vos também a todos, crentes e não crentes, que se recordem de tantos bispos, sacerdotes e leigos que pregaram e pregam a boa nova de Jesus com coragem e mansidão, respeito e em paz; que, na sua passagem por esta vida, deixaram impressionantes obras de promoção humana e de amor, pondo-se muitas vezes ao lado dos povos indígenas ou acompanhando os próprios movimentos populares mesmo até ao martírio. A Igreja, os seus filhos e filhas, fazem parte da identidade dos povos na América Latina. Identidade que alguns poderes, tanto aqui como noutros países, se empenham por apagar, talvez porque a nossa fé é revolucionária, porque a nossa fé desafia a tirania do ídolo dinheiro. Hoje vemos, com horror, como no Médio Oriente e noutros lugares do mundo se persegue, tortura, assassina a muitos irmãos nossos pela sua fé em Jesus. Isto também devemos denunciá-lo: dentro desta terceira guerra mundial em parcelas que vivemos, há uma espécie de genocídio em curso que deve cessar.

Aos irmãos e irmãs do movimento indígena latino-americano, deixem-me expressar a minha mais profunda estima e felicitá-los por procurarem a conjugação dos seus povos e culturas segundo uma forma de convivência, a que eu chamo poliédrica, onde as partes conservam a sua identidade construindo, juntas, uma pluralidade que não atenta contra a unidade, mas fortalece-a. A sua procura desta interculturalidade que conjuga a reafirmação dos direitos dos povos nativos com o respeito à integridade territorial dos Estados enriquece-nos e fortalece-nos a todos.

3.3 A terceira tarefa, e talvez a mais importante que devemos assumir hoje, é defender a Mãe Terra.

A casa comum de todos nós está a ser saqueada, devastada, vexada impunemente. A covardia em defendê-la é um pecado grave. Vemos, com crescente decepção, sucederem-se uma após outra cimeiras internacionais sem qualquer resultado importante. Existe um claro, definitivo e inadiável imperativo ético de atuar que não está a ser cumprido. Não se pode permitir que certos interesses – que são globais, mas não universais – se imponham, submetendo Estados e organismos internacionais, e continuem a destruir a criação. Os povos e os seus movimentos são chamados a clamar, mobilizar-se, exigir – pacífica mas tenazmente – a adopção urgente de medidas apropriadas. Peço-vos, em nome de Deus, que defendais a Mãe Terra. Sobre este assunto, expressei-me devidamente na carta encíclica Laudato si’.

4. Para concluir, quero dizer-lhes novamente:O futuro da humanidade não está unicamente nas mãos dos grandes dirigentes, das grandes potências e das elites. Está fundamentalmente nas mãos dos povos; na sua capacidade de se organizarem e também nas suas mãos que regem, com humildade e convicção, este processo de mudança. Estou convosco. Digamos juntos do fundo do coração: nenhuma família sem teto, nenhum camponês sem-terra, nenhum trabalhador sem direitos, nenhum povo sem soberania, nenhuma pessoa sem dignidade, nenhuma criança sem infância, nenhum jovem sem possibilidades, nenhum idoso sem uma veneranda velhice. Continuai com a vossa luta e, por favor, cuidai bem da Mãe Terra. Rezo por vós, rezo convosco e quero pedir a nosso Pai Deus que vos acompanhe e abençoe, que vos cumule do seu amor e defenda no caminho concedendo-vos, em abundância, aquela força que nos mantém de pé: esta força é a esperança, a esperança que não decepciona. Obrigado! E peço-vos, por favor, que rezeis por mim.

REFERÊNCIAS

[1] JOÃO XXIII, Carta enc. Mater et Magistra (15 de Maio de 1961), 3: AAS 53 (1961), 402.
[2] PAULO VI, Carta enc. Popolorum progressio, 14.
[3] PONTIFÍCIO CONSELHO «JUSTIÇA E PAZ», Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 157.
[4] V CONFERÊNCIA GERAL DO EPISCOPADO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE (2007), Documento de Aparecida, 66.
[5] JOÃO PAULO II, Exort. ap. pós-sinodal Ecclesia in Africa (14 de Setembro de 1995), 52: AAS 88 (1996), 32-33. Cf. IDEM, Carta enc. Sollicitudo rei socialis (30 de Dezembro de 1987), 22: AAS 80 (1988), 539.
[6] JOÃO PAULO II, Bula Incarnationis mysterium, 11.